Nosedive e a Espetacularização da Aparência

Primeiramente, é importante salientar o quão incrível é a capacidade que certos episódios da série Black Mirror costumavam ter. Isso se refere principalmente a promover algum tipo de reflexão sobre a realidade, partindo da premissa de um enredo supostamente futurista. Em Nosedive, episódio que simula uma realidade onde o status social de alguém é mediado por um sistema de notas – similar ao que encontramos em aplicativos e redes sociais -, a personagem Lacie, em uma busca desenfreada por melhores condições de vida, cai em uma exponencial derrocada que culmina em sua paradoxal e irônica liberdade.

A Fragilidade Artificial em Nosedive

Na prática, o episódio simplesmente traz a perfeição frágil e artificial das redes sociais contemporâneas, para o mundo real. Assim sendo, as pessoas com mais privilégios são aquelas com as notas mais altas, providas de prestígio, fama, e mais oportunidades que as demais. Este é então em um reflexo direto de suas posses e status, nada muito distante do que é a realidade e fato. A diferença é que, no episódio é estabelecida uma relação condicional entre curtidas e poder, o que na vida real é apenas relacional. Assim, no mundo real, a popularidade das redes é uma consequência do status, enquanto no episódio o status é um mediador para adquirir o próprio poder, quase um catalisador monetário.

Nesse sentido, a fragilidade supracitada está implicada na ideia de que a felicidade pode ser prolongada e perpetuada, e de que esta é sinônimo de perfeição e status quo. Assim, é estabelecido um padrão, com regras a serem seguidas piamente. Isso culmina em seres despersonalizados, preocupados exclusivamente com o próprio ego, sem qualquer apelo pela própria opinião, apenas seguindo uma verdadeira neurose de massa. Novamente, o episódio se mostra bem próximo do que é a realidade.

 

Naomi e o Ilusão de Realização

Dessa forma, a autonomia se perde, e a maioria das pessoas tenta se encaixar nos padrões e nivelar assim suas ambições nessa “régua”. Eis que se estabelece o conformismo (imitar o que os outros fazem), e pior ainda, o totalitarismo (fazer o que os outros querem que você faça), características que alienam o ser humano implacavelmente. Lacie, a personagem principal, obcecada com uma vida melhor, em um imóvel mais luxuoso, se deixa levar pelo que a sociedade estabelece como bom. Assim, não fosse os infortúnios que se seguiram a cada cena, poderia passar por aquela vida inteira desprovida de autonomia, em um ideal de felicidade ilusório incompatível com ela mesma.

Pode ser pretencioso afirmar necessariamente que Naomi – a amiga que Lacie a qual esta seria madrinha de casamento – esteja vivendo em uma ilusão de felicidade ali entre tudo o que a rodeia. Todavia, é seguro afirmar que aqueles que figuram nas mais altas escalas de popularidade tem tantos privilégios que, mesmo não sendo autenticamente felizes, não são impactados pelas mazelas que se formam diante de uma premissa de sociedade que não dá vazão a aquilo que há de mais humano. E tal humanidade reside na capacidade de escolher, a despeito de qualquer modelo ou regras estabelecidas, porquê da escolha nascem emoções e comportamentos vitais como o amor por exemplo, algo que permite ao ser humano lidar com conflitos e assim ultrapassarem a alienação.

 

 

A Busca Desenfreada de Lacie e a Liberdade Paradoxal

Dessa maneira, Naomi pode viver sustentando um padrão de vida luxuoso, e tais artefatos aos quais esta dispõem conseguem subsidiar muitas vezes a falta de, por exemplo, uma possível amizade verdadeira oriunda de Lacie. Por isso, haverão sempre pessoas que passarão a vida inteira tentando se convencer de que tiveram uma vida significativa, mesmo que no íntimo saibam que não foi assim.

E esse luxo, esse status quo consequente deste, era justamente o que Lacie buscava, a todo custo, praticamente negando a si mesma. Para além de sua verdadeira opinião sobre o biscoito que comera, ou sobre sua opinião real a respeito da Naomi, e mesmo supostamente alienada completamente sobre o que realmente queria, Lacie assumiu a postura conformista de fazer o que os outros fazem. Ela também assumiu a postura e totalitarista que a sociedade como um todo esperava que ela assumisse. Mas curiosamente, o que a libertou, foram as poucas pessoas daquele mundo que destoavam desse padrão, e dessa forma estavam presentes na vida dela (ou estiveram por um único momento), em especial seu irmão (Ryan) e a caminhoneira (Susan).

 

Nosedive Como um Testemunho do Sistema

Obviamente, quem rompe com o sistema paga um preço, tanto na vida real quanto no mundo utópico de Nosedive. Susan, com toda sua autenticidade, crítica e sem nenhum medo de dizer o que pensava, teria de ter uma nota baixíssima, assim como na realidade, onde muitas vezes uma pessoa tida como alguém imponente, mas apenas reproduz uma demanda superficial da sociedade, ganha notas altas enquanto alguém verdadeiramente sincero é taxado como inadequado. Também Susan teve de passar por uma situação severamente desumana para romper com o sistema (a não cirurgia do marido, preterido por alguém com uma “nota” maior que a dele), e com isso viver á margem dele, mas sendo ela mesma.

Lacie foi apenas despencando, situação a situação, adquirindo sua liberdade quando finalmente consegue fazer seu discurso no casamento de Naomi, um discurso bem ensaiado, que foi migrando de algo engessado para algo vindo da verdade do seu coração, onde existia mágoa, desespero, mas acima de tudo, havia a humanidade plena em seu ápice. Assim sendo, a figura de seu irmão Ryan foi o que possibilitou a Lacie essa transição extrapolada em seu discurso, embora drástica demais, rumo ao seu verdadeiro eu, pois este sempre a tratou de modo autêntico e sincero sempre, ainda que de modo nada agradável.

 

Transportando Nosedive para o Mundo Real

Ainda assim, mesmo culminando na prisão, com Lacie chegando ao limite, foi possível alcançar a liberdade. Porque no fundo, a vontade de sentido de Lacie era mais forte que a pose, e que os tons pastéis de um mundo engessado, engendrado em um ideal de perfeição impraticável. Mas foram suas poucas relações verdadeiras que permitiram a ela ter uma chance de vencer a ‘Matrix’ a partir de sua própria consciência. Quantos são os indivíduos, alienados, emburrecidos por uma sociedade do espetáculo e da aparência, desprovidos de conteúdo e profundidade, que vivem iludidos a vida inteira e não conseguem acessar o seu próprio eu?

Transportando para o mundo real, Nosedive é a personificação do totalitarismo e das neuroses de massa dos tempos contemporâneos. Aquilo que se projeta nas redes, acaba sendo majoritariamente uma projeção do modo como alguém quer ser visto, em detrimento de suas próprias vivências atuais, sentimentos, desejos e crenças. A curtida ganha mais valor que o momento, o reconhecimento artificial se torna mais importante que um vínculo genuíno. E também a ilusão se sobrepõe aos encontros de verdade. Dezenas de páginas que propagam a promiscuidade visando o lucro, alienam milhões de indivíduos disfarçando suas atrocidades de informações e até mesmo arte e, com isso, as pessoas se tornam alheias à sua própria opinião, vivendo em função de conceitos projetados.

Assim, as relações viram um grande conjunto efêmero, um grande boato, sem profundidade nenhuma. A resenha vazia perpetua-se e oblitera a capacidade humana de dinamizar e atribuir significados a vida, através de sonhos sólidos cultivados na empatia, na relação. Até a capacidade de humor é degenerada, sendo reduzida ao absurdo da existência, a ofensa velada.

 

Conclusão

Em conclusão, não há algo pior do que viver num mundo desumanizado, embora isso não seja novidade ao longo da história. Nosedive é uma realidade futurista consolidada e fundamentada a partir de algo completamente sub-humano. Todavia, o mundo de verdade, ainda que desumanizado, conserva algo de humano para combater a prevalente vontade de poder e de prazer sobre a vontade de sentido, e uma grande evidência disso, é esse mesmo texto, sendo escrito por mim e lido por você.

É preciso pensar objetivamente como se usa as redes, pensar claramente sobre o que elas representam para além da riqueza e eficiência da precisão matemática. Assim, ela poderá se tornar uma maneira humana de atribuir a ela um contraponto diante da prevalência nefasta que a domina, bem como permeia a sociedade, que é a desumanidade referida. Diversão não precisa ser sinônimo de fuga, tampouco de algo efêmero, assim como status quo não precisa ser sinônimo de sucesso e plenitude. É possível ser livre, e pra isso, você não tem que ir pra cadeia nem fazer um discurso drástico em um casamento… talvez só precise fazer a escolha certa.

 

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Nosedive e a Espetacularização da Aparência em Black Mirror
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