A Prevalência do Efêmero

No instante em que a banalidade vira a ordem do dia através do efêmero, a humanidade estará fadada a uma afetação que irá se transformar em vazio, que culminará em descaso, e que perpetuará o nefasto. E é por isso que àquilo que dinamiza a vida, e que acrescenta a ela o que há de mais belo e ubíquo, trazendo à tona virtudes humanas que contradizem o banal, reascendem a chama da esperança no que se refere a uma sociedade melhor, mais coesa, cujo amor e bondade prevalecem a fim de transformar tragédias em triunfos, o mal em bom.

Todavia, na indústria, na mídia, em expoentes que supostamente evidenciam o que há de mais prevalente em termos sociais, artefatos que dinamizam a vida são cada vez mais escassos. Assim sendo, sempre que este autor vê uma produção teatral, ou musical, que tem uma responsabilidade ética e social de preservar valores que alimentem tais dinamismos, sua respectiva conduta é tentar mostrar isso pro mundo, através de textos, ou vídeos, ou até mesmo utilizar reels ou stories pra isso, quase num combate ao efêmero usando o efêmero.

A Inspiração

Nessa semana uma ex-colega de faculdade – que agora também é musicista – estava tocando uma guitarra nos reels do Instagram, e aquilo pareceu extraordinariamente belo aos olhos deste que vos fala. E a referência não estava na beleza inquestionável da pessoa em si, tampouco no cenário deveras harmonioso com a totalidade do conteúdo, e mesmo o som que arrematava uma tríade sublime que iluminou o dia… não.

A referência estava no estado de fluxo em que ela tocava cada nota, à medida que se concentrava em executar as melodias mais lindas que poderiam transformar qualquer dor no seu mais absoluto reverso. Talento total. Dinamismo pleno, que dá sentido a vida. E foi o gancho para ativar memórias que fizeram este que vos fala perceber um outro momento similar que proporcionou o sentimento a este de que a vida – apesar de todas as mazelas existentes na sociedade – ainda vale muito a pena, que foram os últimos singles e musicas de Coldplay, em especial a música All My Love.

O Clipe All My Love: A Antítese do Efêmero

Assim sendo, Chris Martin e a sua banda fizeram uma obra de arte, homenageando Dick Van Dyke, um humorista cujo expoente máximo se deu no programa “The Dick Van Dyke Show” entre 1961 e 1966, além de “Mary Popins” (1964). Costuma ser muito comum que pessoas sejam homenageadas apenas depois de sua morte, todavia o que acontece aqui é uma homenagem em vida, com o homenageado – no auge de seus 98 anos de idade – participando de tudo, com suas histórias, e com toda ou grande parte de sua família. Dessa forma, se configura o tal dinamismo proclamado por este artigo, e diante de um mundo tão impessoal, tais produções merecem explanações como essa.

Sobretudo, o clipe não só emana alegria e inspiração de levar uma vida mais leve e serena, como também revela que o período da velhice não precisa ser um rumo melancólico em direção ao desconhecido e a morte. Por vezes, o Sr. Van Dyke mescla suas danças características com imagens e vídeos do passado e dizeres de vivências familiares, falando sobre as relações e o amor envolvido nelas, denotando uma paz de espirito e alegria que transcendem os parâmetros do próprio clipe. Do mesmo modo, a musica parece proclamar o amor do momento presente, todo o amor que deveríamos suceder no aqui-e-agora, diante do que pode ser consagrado ao passado, e do desconhecido do futuro.

A Luz que Transcende o Efêmero e o Fugaz

Em outras palavras, o clipe é um tributo ao genuíno e ao autêntico, em detrimento do impessoal. Em geral, o lazer tem se configurado em mera fuga, com as pessoas privilegiando a busca material, perdendo de vista as conexões humanas genuínas, muitas vezes por um medo baseado na incapacidade de controlar o outro, e a si mesmo. Dessa forma, como consequência, a solidão se instaura, depressão e ansiedade proliferam, e a agressividade se torna a ordem do dia. E em suma, para piorar, a maioria das produções de mídia refletem isso, deturpando valores, reduzindo o amor a algo arbitrário e nebuloso, nivelando às relações a meros jogos de interesse e objetificação.

Felizmente, existem pessoas como essa ex-colega, como os integrantes de Coldplay, e como o Sr. Van Dyke. E porque não lembrar das que existiram e não estão mais vivas, mas deixaram seu legado, como o Sr. Viktor Emil Frankl. Nos anos 70 ele já dizia que os seres humanos verdadeiramente humanos eram poucos; todavia, era justamente este fato que deveria inspirar os leitores de seus livros a se juntar a eles, pois se não o fizessem tudo seria ainda pior… uma luz a mais se perderia no marasmo daquilo que é meramente fugaz.

Conclusão

Por fim, pode parecer confuso e até difícil pensar em como ser autêntico e genuíno, estimulando assim conexões verdadeiras. Todavia, não é como parece. Muitas vezes basta se interessar verdadeiramente por alguém em essência, ou quem sabe tocar uma música de todo o coração. Pode-se conseguir isso sendo caridoso e ajudando o próximo, ou rindo de uma situação potencialmente difícil.

Quem sabe você atinja isso se comprometendo a ser honesto e amoroso, ou renunciando a oportunidade de uma mentira fácil para se “dar bem”. Seja como for, ou qual seja a conduta adequada que te leve a isso, apenas, o faça, porque no final das contas, o único dever supremo de todo o ser humano é ser bom, para si, e para o mundo.

“Você tem todo o meu amor
Na eternidade do momento presente
Esteja aqui e até mesmo ausente
Na alegria ou na dor, outrora persistente
Um deleite em ubiquidade, beleza prevalente
Pois você é o instante supremo
Que ilumina a minha mente”

Clipe Oficial da Musica All My Love – Clique Aqui para ver!

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Diego Henrique Dos Santos

Psicólogo | CRP 03/30093 | Formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF | Escrevo sobre os mais diversos assuntos relacionados a saúde mental, a partir de duas abordagens: Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) e Logoterapia.