Quando o corpo, tenha TDAH ou não, entra em estado de estresse, independentemente deste ser físico, emocional, comportamental ou situacional, o corpo passa a trabalhar em situação de emergência, com o fim de recuperar o equilíbrio. Dessa forma, utiliza recursos físicos e psíquicos para autoproteção, para dar conta de todas as demandas e agressões.
A reação imediata ao estresse é conhecida como Fase do Estresse Agudo. É um mecanismo de defesa totalmente natural, instintivo e automático que ajuda a pessoa, corpo-mente-emoção, a se ajustar às pressões, riscos e ameaças.
Na fase de Estresse Agudo, aumenta o nível de alerta, a energia e capacidade de reação – a pessoa pode ficar mais alerta, ativada, mais rápida. Igualmente mais agitada, “nervosa”, alguns tipos de mal-estar físico como taquicardia, aperto no peito ou problemas gástricos. Normalmente é uma fase curta, pelo tempo que o fator causador permanece.
Porém, se o estresse permanece, corpo-mente-emoções se preparam para o enfrentamento de longo prazo. Na Fase de Resistência, recursos físicos e psíquicos são ativados de modo a enfrentar os desafios e recuperar o equilíbrio. Nesta fase, o corpo é bombardeado por substâncias que facilitam o enfrentamento. A adrenalina e o cortisol são os grandes responsáveis pela capacidade de reação, de suportar o esforço e a pressão em busca dos objetivos, muitas vezes por anos a fio.
Nesta fase de resistência, um desgaste lento e insidioso vai se acumulando, especialmente nas pessoas mais batalhadoras, aquelas que encaram os problemas com coragem e sem descanso. De forma imperceptível, as resistências do corpo vão sendo exauridas, de forma inconsciente e involuntária. E o estresse crônico é o maior fator de risco para a Síndrome de Burnout.
O aparecimento do estado de esgotamento – do Burnout – usualmente pega a pessoa de surpresa. Imagine alguém que, ao longo da vida, sempre teve força para dar conta dos desafios, de correr atrás das coisas importantes… de repente, parece que teve um apagão.
A Síndrome de Burnout é um estado de exaustão física, mental e emocional, causada por estresse crônico e muito prolongado. Seu início é marcado pela percepção que “não dá mais”, de sobrecarga e incapacidade em dar conta das demandas constantes. Conforme o esgotamento avança, a produtividade diminui – a energia vai acabando, deixando um sentimento de vazio, desesperança, até mesmo de cinismo e ressentimento. Toda aquela garra e vontade que foram o combustível por tanto tempo, agora simplesmente desapareceu.
Falta de motivação, um estado crônico de cansaço que não melhora com o descanso, uma atitude geral de desinteresse por todas as coisas que anteriormente traziam ânimo, vontade, prazer, ansiedade, nervosismo e até mesmo preocupações – e que mantinham a pessoa em movimento, sempre correndo atrás.
Esgotamento emocional, vontade de chorar até mesmo em pessoas anteriormente muito firmes. Passa pela cabeça que tanto esforço, tanta dedicação, nada valeu a pena. Qualquer pequeno problema ou contratempo parece enorme. Um dos meus pacientes dizia que, durante o momento mais pesado do Burnout, até mesmo escolher o sabor da pizza era custoso demais.
TDAH na Fase de Estresse Agudo
Durante a Fase Aguda, a pessoa entre num estado de maior ativação. O aumento da pressão, normalmente por prazos ou cobranças, tem um efeito imediato e positivo de direcionar o foco e aumentar a motivação (mesmo que pela via negativa, para fugir das consequências negativas).
É bem comum a percepção de que “eu funciono melhor sob pressão”. A conhecida dupla de procrastinação, seguida pela entrega em cima da hora. Sim, pois é justamente a pressão que liga os sistemas de alarme e proteção, que por sua vez aumentam a ativação geral e o foco, mesmo que causando desconforto como angústia, ansiedade e sintomas psicossomáticos – taquicardia, tensão muscular, problemas digestivos entre outros.
TDAH na Fase de Resistência
Como a pessoa com TDAH sofre com dificuldades executivas, não dispondo de boas capacidades de planejamento e execução, muito provavelmente passará para a Fase de Resistência do Estresse. Mas nem sempre o estresse agudo passa rapidamente. Quando ele é intenso e constante, a pessoa tende a reagir com um super- engajamento.
É a fase em que se faz coisas demais, correndo o tempo todo para todos os lados, com agitação mental muito forte, forte reatividade emocional, impulsividade e dificuldade de focar em uma única coisa. Os sintomas se tornam muito parecidos com a Ansiedade.
Na Fase de Resistência, a caminho do estresse crônico, é típico querer fazer tudo ao mesmo tempo, devido a um forte senso de urgência; às vezes, acompanhado pela ideia que “já deveria ter conseguido isto a (x) anos, o tempo está passando, estou ficando velho(a)”.
Nesta etapa, também aparecem sintomas bem parecidos com a hiperatividade, especialmente mental – a percepção é da cabeça não parar nunca, pensando em tudo ao mesmo tempo, visualizando cenários futuros, possibilidades e ações a serem tomadas. Um dos meus pacientes, quando iniciou o tratamento, recitava constantemente a lista de todas as pendências em aberto. O prejuízo físico é mais visível, como cansaço constante, apesar de ainda haver energia para continuar lutando.
TDAH na Fase de Estresse Crônico – Síndrome de Burnout
A Síndrome de Esgotamento – Burnout é o estágio final de um processo de stress crônico, no qual as pressões muito intensas se mantém por tempo demasiado.
Os sintomas da Síndrome de Burnout incluem falta de atenção, esquecimentos constantes, redução da velocidade mental, problemas com impulsos e motivação, irritabilidade e até mesmo tristeza, desamparo e desesperança. De fato, muitos destes sintomas são exatamente os mesmos encontrados no TDAH – Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Na fase crônica, o esgotamento cobra um preço muito alto sobre os processos cognitivos. Qualquer ato de pensamento se torna custoso, como se “tivessem cola”. A angústia, ansiedade e preocupação com os problemas e objetivos, típicas da Fase de Resistência praticamente desaparecem.
Parece que, repentinamente, a pessoa desistiu de tudo. A atitude de “não aguento nem ouvir falar”, de descompromisso e até esquiva por todas as coisas que até bem pouco tempo eram tão importantes aparece forte. O esgotamento emocional é bem intenso – o Burnout é um dos maiores fatores de risco para depressão.
O cansaço é crônico e qualquer esforço é demasiado, sem que o descanso traga alívio. Devido a este elevado grau de exaustão, todos os processos cognitivos superiores ficam prejudicados, em especial as Funções Executivas. Justamente por isto há a percepção, tão típica daqueles que sofrem do esgotamento mental, que são falhas de memória, cansaço imenso ao tentar se concentrar e lentidão do pensamento.
Certamente, existe também o cenário no qual um portador de TDAH entre em estado de esgotamento mental, justamente por todo o estresse que a vivência do transtorno acaba por ocasionar. Neste caso, o mais adequado é entender as queixas como decorrente de uma comorbidade.
Como sobreviver ao Etresse Crônico / Burnout
É essencial levar o esgotamento a sério. Qualquer tentativa de fazer mais esforço, de vencer na base da força, apenas tornará a situação ainda mais crítica. Algumas vezes não é possível atuar na prevenção do Burnout – procura-se ajuda apenas quando o quadro já está bem avançado.
Justamente por isto é necessário bastante atenção por parte dos profissionais de ajuda. Os pacientes tem tendência a recusar ajuda, a pressionar saídas mágicas para voltar à situação anterior – da fase de resistência, em que tinham energia suficiente. Até conseguem entender, conscientemente, a origem do esgotamento – sem contudo a aceitação que será necessário mudar o estilo de vida.
No que diz respeito ao TDAH, é essencial manter uma postura de suspeição diante de um histórico sugestivo de Burnout. Tratamentos com psicoestimulantes podem ser solicitados explicitamente por muitos pacientes, especialmente aqueles com elevado grau de exigência e autocrítica. Este uso pode, de fato e no curto prazo, trazer alguma melhora em termos de energia geral, contudo haverá um preço muito alto a ser pago, na medida em que as poucas reservas ainda existentes serão rapidamente depletadas.
Para recuperar o equilíbrio
É altamente indicado “diminuir a velocidade”, que a pessoa consiga permitir a si mesma um período de desligamento das pressões (às vezes, é possível fazer isto sem deixar o trabalho). É profundamente necessário abrir tempo para descansar, relaxar, repensar a vida e dar espaço para que o corpo se cure. Pois a própria ocorrência do Burnout é um indicador inquestionável que alguma coisa já não ia bem, que não dá mais para continuar daquele jeito.
Buscar ajuda pode fazer toda a diferença. Em primeiro lugar, para recuperar os contatos interpessoais, o vínculo e suporte pelas pessoas queridas. É muito triste reconhecer que diversos daqueles que se encontram em esgotamento perderam todo vínculo significativo ao longo dos anos, devido ao foco excessivo no que “tinha de ser feito”, como se os relacionamentos fossem algo totalmente dispensável e pouco útil.
Igualmente importante é aceitar cuidados profissionais, especialmente para os estados mais profundos de esgotamento. Fazer terapia pode abrir o espaço necessário para aprender a cuidar de si, para repensar os sonhos, esperanças, objetivos e também questionar os meios para alcançá-los.
Se precisar de ajuda entre em contato pelo WhatsApp: 74 78845 8375
Abçs
Socorro Bernardes
Psicopedagoga, Psicanalista Clínica, Palestrante, Bacharel em Administração de Empresas, especialista-BA na área de Atendimento Educacional Especializado, Escritora/poetisa com livro publicado pela Editora Baraúna e CBJE.