Navillera: A linda produção Sul-Coreana
Em primeiro lugar, é importante frisar que Navillera é, na opinião deste autor, a produção mais incrível e espetacular que este já viu. Trata-se de uma história com uma excelente fotografia, um enredo muito bem encadeado, atores e atrizes que entregam uma atuação sublime, e ainda assim, como se não bastasse, a produção Sul-coreana consegue abordar um tema extremamente complexo como o Alzheimer, com leveza, sob a belíssima relação dos personagens Sr. Shim e Chae-rok, a partir do estonteante universo do Balé.
Nesse sentido, torna-se facilitada a possibilidade de abordar temas tão complexos, de uma maneira simplificada, usando como parâmetro o Dorama Navillera, que traz as características de tal tema à tona, de uma forma extremamente didática e bonita. E é a partir da dinâmica central do Dorama que este artigo fincará suas bases de argumentação.
O enredo do Dorama Navillera
Bem como a vida supostamente deveria ser, este Dorama (Navillera) traz ao telespectador uma visão de mundo mais positiva, bela, e até poética, para além do sofrimento e a dor, que são representadas principalmente nas situações vivenciadas pelo personagem Sr. Shim. Ele é um senhor de 70 anos que, durante toda sua vida, teve como sonho fazer Balé, algo que nunca se atreveu a fazer – a partir da criação dos pais – até aquele ponto da história, decidindo começar essa prática já em uma idade mais avançada.
Então, o enredo nos apresenta o jovem Chae-rok, um aspirante promissor no Balé, cuja expectativa geral é grande no que se refere a este se tornar um grande expoente do Balé de sua geração. Chae-Hok, talentoso e arredio – também influenciado por problemas do passado relacionados ao pai – acaba na situação de ensinar o Sr. Shim a arte do Balé, e todos os desafios que isto implica. Todavia, além de tudo isso, o Sr. Shim ainda acaba sendo diagnosticado com a Doença de Alzheimer (DA), o que mudou tudo em termos de possibilidades, de emergência da prática, e de perspectivas dentro da história.
A Luta apesar da DA
Contudo, o Sr. Shim queria voar alto ao menos uma vez, fosse como fosse. E ele fez todo o possível para manter os treinamentos do Balé – enfrentando sua família enquanto escondia sua doença – para que pudesse se apresentar ao menos uma vez. E assim, mesmo com o avanço gradual da DA, ele manteve o treinamento, culminando em conseguir se apresentar em um palco com a plateia lotada, mesmo com dificuldade de se lembrar de todos os passos… mesmo com dificuldade de saber quem ele é, e quem estava em volta dele.
Este desfecho poético serve de gatilho para subsidiar alguns temas e questões relacionadas ao desenvolvimento da condição, bem como o modo de lidar com a DA, uma doença neurodegenerativa que afeta 46,8 milhões de pessoas ao redor do mundo (Prince et. al. 2015). A DA é uma doença onde acontece atrofia cerebral, e tal “atrofia cerebral não se dá predominantemente na região frontal, e sim no lobo temporal e parietal (Ávila & Miotto, 2003)”. Isso significa que, além da memória e da linguagem, as funções executivas podem ser prejudicadas, e para corroborar isso, “há evidências de que alguns pacientes (pessoas) apresentam maior grau de déficits cognitivos do que outros (Ávila & Miotto, 2003)”.
Um novo olhar sobre a DA a partir de Navillera
Mesmo com os avanços tecnológicos e científicos, a DA, ainda que possa ser cuidada e até mesmo “atrasada”, ainda assim é inevitável. Todavia, a partir do momento em que um indivíduo é diagnosticado com tal condição, existem outras questões que possam ser postas em debate diante da inevitabilidade da condição, bem como a possível brevidade de uma vida de qualidade por parte do ser humano sob tal prisma. A este ponto este artigo irá se propor. Nesse sentido, considerando a culminante da condição, pode ser oportuno investir também no universo do paciente naquilo que ele mais ama, àquilo que ele quer fazer como uma espécie de sinfonia final… àquilo que vai despertar o seu coração e mobilizar seu corpo e seu espírito para além do que este possa se lembrar objetivamente, à medida que sua condição da DA avence.
Para o Sr. Shim, era o Balé. Mesmo se esquecendo do nome da esposa ou dos filhos, ele nunca esqueceu o rosto daquele que o inspirou – o Chae-rok – a voar alto. A brevidade da vida se acentua ainda mais em uma situação como essa, pois cada dia passa a ser extremamente significativo. Supostamente, em uma sociedade onde o amor fosse prevalente, essa premissa deveria independer da condição de possibilidade de doença ou morte, pois o amor “nos empodera para viver plenamente e morrer bem. Então, a morte se torna não o fim da vida, mas uma parte dela (Hooks, 2021, pág.227)”.
Transitoriedade e Finitude em Navillera
Hooks ainda fala sobre o medo das pessoas enquanto sociedade em relação à morte, algo fundamentado na propagação da ideia de que a morte deve ser rechaçada, evitada, blindada de qualquer discussão, algo fundamentado no medo e no culto a esta, sendo assim propagada dessa maneira pela mídia. Assim sendo, isto, por sua vez, contribui para o isolamento e também para a impessoalidade de vida. Todavia, a mortalidade deveria ser encarada como parte inerente da vida, “com consciência, clareza ou paz de espírito (Hooks, 2021, pág. 225)”.
Dessa forma, o indivíduo que fica obcecado em evitar a morte a qualquer custo, “não está tornando a morte mais real, mas sim a vida menos real (Hooks apud. Merton 2021, pág. 225)” e essa forma difundida de ver o mundo, torna situações de enfermidade como a do Sr. Shim com maior probabilidade ainda de serem mais insustentáveis e difíceis. Por isso mesmo, a superação do Sr. Shim, sua dedicação ao Balé, além de seu ato final de apresentação, representam uma antítese desse pensamento a cerca da morte, que se vincula intimamente a condição da DA, à medida que ela se desenvolve.
Devemos abraçar a realidade do inesperado – Navillera aplicada à vida
Portanto, com o foco em cada dia, com a noção de que a morte é uma parte da vida, e de que “aceitar a morte com amor significa que abraçamos a realidade do inesperado, de experiências que não podemos controlar (Hooks, 2000, pág. 234)”, o ser humano pode buscar viver cada dia da forma mais significativa. Assim sendo, poderiam se abrir portas, até mesmo para elementos que possam ir além da sua respectiva capacidade de lembrar e até de falar.
O que faz o cérebro humano armazenar certas informações e descartar outras? O contexto associado, bem como a carga emocional envolvida são decisivas nesse processo, fora a repetição. Obviamente que em uma doença como a DA, há um comprometimento gradual que se tornará severo de funções cerebrais importantes. Todavia, Navillera mostra que, mesmo diante de toda dificuldade do Sr. Sim, no estágio avançado da doença, ele ainda foi capaz de se lembrar de como voar alto, e possivelmente isso só seja possível, por causa do emocional envolvido, subsidiado por um sonho que transcende até mesmo a realidade mais cruel. Ele não lembrava de mais nada, mas ainda lembrava do Balé, e do rosto d Chae-Hok.
Conclusão
Por fim, tudo isso não representou uma melhora da DA do personagem, nem uma qualidade de vida ideal, tampouco representa necessariamente algo fidedigno à realidade. Porém, tudo isso abre discussão sobre o modo como os seres humanos enxergam o mundo, suas respectivas condições efêmeras e ao mesmo tempo milagrosas humanas, e ainda abre perspectivas sobre como valorizar cada dia a partir da premissa de um Sr. Shim que só queria voar alto ao menos uma vez. Porque no final, ainda que todas as lembranças possam se esvair, aquilo que há no coração nunca há de se obliterar.
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Referências
Avila, R., Miotto, E. (2003). Funções executivas no envelhecimento normal e na doença de Alzheimer. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 52, 53-62.
Hooks, b. (2021). Tudo sobre o amor: Novas perspectivas. Editora Elefante.
Merton, T. (1997). Love and Living. Nova York: Commonweal Publishing.
Prince, M., Wimo, A., Guerchet, M., Gemma-Claire, A., Wu, Y.-T., & Prina, M. (2015). World Alzheimer Report 2015. Alzheimer’s Disease International.
Psicólogo | CRP 03/30093 | Formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF | Escrevo sobre os mais diversos assuntos relacionados a saúde mental, a partir de duas abordagens: Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) e Logoterapia.