TDAH e Insônia: Dormir é para os Fracos?

Introdução

Em primeiro lugar, antes de falar sobre o TDAH, permitam-me começar com uma experiência pessoal. Quando eu estive na academia pela primeira vez, fazendo um curso de graduação o qual eu não terminei, ouvi uma pessoa dizer – mediante o encargo de fazer um trabalho acadêmico em grupo – que dormir era “para os fracos”, sob o pretexto de ficar a noite toda acordado estudando e se engajando no projeto. Obviamente, interpretei que ele tratou o sono como algo efêmero, como se dormir fosse perda de tempo.

Dessa forma, já naquela época, aquilo me incomodou, o modo deturpado que as pessoas enxergam o descanso, a calmaria e a quietude, em detrimento da hiperatividade. Ao mesmo tempo, não à toa, pessoas com TDAH com frequência tem dificuldade para dormir em muitos casos. E essa minha impressão não se limita a minha opinião, tendo em vista que estudos apontam que as pessoas, em geral, têm tido um sono sofrível, algo que vem se acentuando nos últimos anos, assim como um estudo publicado pela Sleep Epidemiology (citado pela revista Veja em 22 de Julho de 2022) mostra, onde é apontado que cerca de 130 milhões de pessoas dormem mal.

TDAH na aquisição do Sono

No Brasil, segundo a Sanofi Consumer Healthcare, 7 a cada 10 brasileiros dormem mal, e mais da metade não procura ajuda especializada. Dessa forma, a indústria farmacêutica e o mercado de soluções em prol do sono crescem vertiginosamente, e isso impacta também as pessoas com TDAH, visto que a característica hiperativa e de pensamento acelerado podem ser fatores que contribuem, por exemplo, para uma dificuldade na aquisição do sono, para “pegar no sono”.

Mesmo assim, a Insônia é múltipla, e pode ter muitos fatores, assim como as características do TDAH são diversas. Portanto, o presente artigo visa esclarecer as possíveis relações entre insônia e TDAH, quando as características da última impactam diretamente na aquisição do sono, levando a pensamentos acelerados e um sono intranquilo. Este também pretende mostrar formas de superar a insônia, caso seu fator primário esteja relacionado com sintomas do TDAH.

Características do TDAH relacionadas a Insônia

Primeiramente, segundo Wajszilber et. al. 2018, práticas não saudáveis relacionadas ao sono são mais comuns em indivíduos com TDAH, e a ironia disso é que esses aspectos de insônia não costumam ter a devida atenção no TDAH, o que culmina em tratamentos apenas para os sintomas do transtorno, sem a ênfase de tratamento também para aspectos da insônia de modo mais enfático e geral. Assim sendo, a problemática geral que pode culminar em falta de atenção e fadiga associados, não é tratado de uma maneira mais adequada e personalizada. Dessa forma, este artigo alerta ao leitor para que possa ter a devida atenção aos detalhes que vão além dos sintomas, que vão além do TDAH. No caso da insônia, pode significar equilibrar um tratamento medicamentoso com, por exemplo, a higiene do sono, não negligenciando nenhum aspecto, em prol da saúde física e mental.

Mas então, se os sintomas do TDAH estiverem impactando diretamente no sono, e se há essa suspeita, como alguém poderia prosseguir para cuidar disso? A seguir, este artigo trará possíveis estratégias para lidar com esses aspectos, o que pode culminar em melhor atenção, melhor sono, e um bom gerenciamento das próprias emoções para que assim você possa lidar cada vez mais de modo pleno e adequado com as características do TDAH.

TDAH e Insônia: Estratégias de enfrentamento! (parte 1)

1 – Procure médicos e psicólogos: É claro que tentar gerenciar melhor seus hábitos é uma prática que pode ser feita por conta própria. Porém, me refiro aqui aos casos de insônia já bem estabelecida, onde as pessoas buscam chás e medicamentos sem nenhum tipo de orientação ou prescrição. Assim sendo, seria melhor procurar profissionais especializados para ter auxílio em um possível tratamento personalizado, entre questão subjetivas, sintomáticas e medicamentosas.

2 – Boa dieta e atividade física: É sabido que um cardápio variado e saudável ajuda na regulação dos ciclos do organismo, inclusive o circadiano. Para auxiliar nisso, é interessante não exagerar em comidas pesadas a noite também. No que se refere a exercícios, sua prática regular faz o corpo gastar energia e liberar hormônios que ajudam a relaxar. O asterisco aqui é ter a atenção de não se exercitar muito próximo da hora de dormir, por conta da adrenalina.

TDAH e Insônia: Estratégias de enfrentamento! (parte 2)

3 – Higiene do sono e investigação de fatores: Segundo Ksdy Maiara Sousa (citada pela Veja, doutoranda na UNIFESP), a insônia é influenciada por hábitos, pensamentos e sentimentos, e envolve aspectos comportamentais, cognitivos e emocionais. Assim sendo, o acompanhamento médico e psicológico pode ser muito importante, principalmente se os sintomas do TDAH estiveram envolvidos, ou mesmo quando outras questões de sono, como a apnéia, forem fatores presentes. Mas, para além disso, a higiene do sono é um fator que pode ser levado em conta, desde antes do paciente estar em processo terapêutico, e isso envolve práticas bem simples.

Tais práticas vão, desde desenvolver estratégias para diminuir o uso de telas a noite (algo que comprovadamente prejudica a capacidade do indivíduo de pegar no sono), até condutas simples como leituras e produções textuais. Dentro de um processo terapêutico, existem muitas possibilidades além das medicamentosas específicas, que vão desde meditação até técnicas de relaxamento. Obviamente, tais técnicas estarão possivelmente alinhadas com os sintomas do TDAH, bem como as características especificas e individuais de cada um, para um tratamento personalizado e adequado.

Conclusão

Assim, se você tem TDAH e está com dificuldades para dormir, terá em perspectiva todas as possibilidades para um tratamento personalizado e eficaz alinhado a sua personalidade e essência. Por fim, um grande problema costuma ser perder de vista os outros fatores, se concentrar especificamente nos sintomas do TDAH, e tratar as coisas a partir desta premissa, sem considerar as consequências e impactos de outras questões. Resumidamente, não adianta lidar com o TDAH, se a insônia estiver presente, estiver relacionada como TDAH, e não for devidamente tratada junto a isso.

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Referências

Wajszilber, D., Santiseban, J. A., & Gruber, R. (2018). Sleep disorders in patients with ADHD: impact and management challenges. Nature and science of sleep, 453-480.

LUISA, Ingrid; LUDUVIG, Laura; ALMEIDA, Daniel. O Sono Que Não Vem. Veja Saúde, São Paulo, nº 481, p. 58-63, Julho de 2022.

Diego Henrique Dos Santos

Psicólogo | CRP 03/30093 | Formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF | Escrevo sobre os mais diversos assuntos relacionados a saúde mental, a partir de duas abordagens: Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) e Logoterapia.